segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pierre Verger







Olá Pessoal;

Hoje, buscando compor um repertório imagético para nosso espetáculo encontrei às fotografias que retratam a Bahia das décadas de 50 e 60, sob ás lentes de Pierre Verger. Para quem ainda não conhece, o francês Pierre Verger (1902-1996) era um fotógrafo que saiu em busca de conhecer o mundo fazendo fazendo belíssimas imagens. Em 1946 quando desenbarcou na Bahia, foi logo seduzido pela tranquilidade e a riqueza cultural da cidade de Salvador, acabou ficando.Como fazia em todos os lugares onde esteve, preferia a companhia do povo, os lugares mais simples. Os negros monopolizavam a cidade e também a sua atenção. Além de personagens das suas fotos, tornaram-se seus amigos, cujas vidas Verger foi buscando conhecer com detalhe. Quando descobriu o candomblé, acreditou ter encontrado a fonte da vitalidade do povo baiano e se tornou um estudioso do culto aos orixás. Esse interesse pela religiosidade de origem africana lhe rendeu uma bolsa para estudar rituais na África, para onde partiu em 1948.
Na década de 80 fez suas primeiras publicações no Brasil e em 1988 criou a Fundação Pierre Verger em Salvador, cidade onde esteve até o final de sua vida.

Para conhecer mais vale a pena acessar o site: http://www.pierreverger.org/fpv/index.php

A Cruz




Zé: (...) E eu me lembrei então que Iansã e Santa Bárbara e prometi que se Nicolau ficasse bom eu carregava uma cruz de madeira de minha roça até a igreja dela, no dia de sua festa, uma cruz tão pesada como a de Cristo. (O Pagador de Promessas – Dias Gomes)


Ao fazer sua promessa, Zé-do-Burro propõe como forma de pagamento carregar uma cruz tão pesada como a de Cristo. A personagem escolhe a “cruz”, como presentificação da sua fé, para isso, vamos compreender um pouco sobre os significados da cruz enquanto objeto simbólico.

A cruz é um dos símbolos mais antigos e apresenta-se cheia de significados para diversas civilizações. Na tradição cristã, a cruz é simbolicamente a imagem da salvação e da paixão de Cristo pelos homens. Segundo o “Dicionário de Símbolos”, na tradição cristã, a cruz simboliza o Crucificado, o Cristo, o Salvador, o Verbo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Ela é mais do que uma figura de Jesus, ela se identifica com sua história humana, com a sua pessoa.*
A crucifixão era uma forma de pena oriental que foi introduzida no Ocidente pelos persas. Ela foi pouco usada pelos gregos, mas muito utilizada pelos cartagineses e romanos. Na literatura romana, a crucifixão é descrita como punição cruel e temida, não sendo aplicada aos cidadãos romanos, mas apenas aos escravos e aos não-romanos que houvessem cometido crimes atrozes, como assassínio, furto grave, traição e rebelião. A cruz não é mencionada no Antigo Testamento.
Os romanos crucificavam os criminosos inteiramente nus e não motivo para se pensar que tenha sido feita alguma exceção para Jesus. As vestes do crucificado eram entregues aos soldados (Mt 27, 35). Uma inscrição com o nome do criminoso e a natureza do seu crime era feita sobre uma tabuinha, que o condenado levava pendurada no pescoço até o local da execução; essa tabuinha com a inscrição foi depois afixada acima da cabeça de Jesus na cruz. Por ironia de Pilatos, a inscrição de Jesus não indicava um crime, mas registrava simplesmente a expressão "rei dos judeus" (Mt 27, 37; Mc 15, 26; Lc 23, 38; Jo 19, 19-22).
Diante de tanto simbolismo, o modo como Zé escolhe para pagar sua promessa, acaba tornando-se uma audácia aos olhos autoritaristas de Pe. Olavo, que interpreta o ato como uma tentativa do simplório Zé em torna-se um “Novo Cristo”.
Outro aspecto relevante é o peso da tal cruz, Zé logo de início faz notar os ferimentos que o peso da cruz lhe causou por carregá-la sete léguas. Todo esse sacrifício é feito para a cura de um burro, que é historicamente conhecido como um animal de carga, ou seja, característico por servir ao homem como carregador de peso. Na história de Dias Gomes, os papéis são invertidos, quem carrega o peso é o homem em favor do burro.

* CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Imprensa na trama do povo

Alguns personagens do nosso espetáculo tiveram que ser "adaptados" a nosso modo para que pudéssemos adequar o elenco ao texto. Galego passou a ser Galega, assim como o Sacristão passou a ser Sacristãos ou Coroinhas e outras adaptações a mais. Vanessa Nakadomari assumiu o Repórter, transformando-o em uma repórter mulher, ou melhor, buscando assumir, nela, a figura da mídia, que oprime, distorce e piora a situação de Zé do Burro.
Segue a análise feita pela Vanessa:


"O Vendedor de Milagres"


Olá Pessoal;

Vamos falar de moda! Sempre admirei muito o trabalho do estilista mineiro Ronaldo Fraga, tanto, que o trabalho final da minha pós em Moda foi sobre o estilista. Sob o título “A teatralidade em Ronaldo”, fiz uma análise do quanto Fraga se apropria da linguagem teatral na criação de suas coleções. Pois bem, minha pesquisa foi uma delícia de se fazer porque descobri coisas incríveis sobre o trabalho de Ronaldo entre elas a coleção de verão 98/99 que o estilista teve como inspiração para suas criações as salas de ex-votos, intitulada “O vendedor de Milagres”, que aborda questões como fé e o milagre da moda sob o corpo defeituoso. Muito interessante para nós! Vejam o texto do catálogo da coleção abaixo:



Roupas podem curar

"Esta coleção fala basicamente de fé. A fé que as pessoas depositam nas
salas de ex-votos - ou salas de promessas - lugar onde clamam pelo
milagre da perna quebrada, pelo braço torto, pela criança que sobreviveu
ao nascimento, por casamento, pela gravidez. pelo fim da seca, pela
doença incurável, pela graça concedida por Deus... E fala também da fé
das pessoas na moda, que, de uma forma ou de outra, promete um corpo
mais esbelto e sedutor, a bunda que você não tem, um peito em pé, pernas
esguias e longas e, principalmente, o milagre mais fantástico, que é te
transformar na pessoa que você pensa que não é".

(Editorial do jornal "No Fraga!", catálogo verão 98/99 da coleção)

Para saber mais sobre o estilista e a coleção vejam o site: http://www.ronaldofraga.com.br/

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Vendedor de Beiju


Esta é a análise do Rodolfo, para a personagem do vendedor de beiju:


Pessoa simples, provavelmente um ex-rural, roupas velhasporém longe de um maltrapilho, que saiu de seu berço de ouro para tentar a vidana "cidade grande".Chegando, logo percebeu as dificuldades.Sem muito a oferecer quanto exigências para um emprego,digamos por hora digno... resolveu fazer seu próprio negócio.Mas se instalar/fixar em algum ponto especifico seria o suficiente para sustentar os filhos,frutos de uma rapariga de um conhecido "castelo" das redondezas.O que fazer?Antes oferecer seu produto do que esperar a procura.Qual produto?Beiju.Que não é tapioca.Já temos comercio de tapioca por perto.Hoje, dia de Santa Barbara, todos alvoroçados querendo celebrar essa data tão importante paraalguns,para outros apenas mais um dia duro de trabalho.Acordar cedo, fazer barulho, vender, vender, vender...afinal Deus ajuda quem cedo madruga!






Fonte imagem: http://slks.zip.net/images/biju.JPG

“O que é que a baiana tem?”


Olá pessoal;

Aí vai a análise da Juliana que fará a personagem Minha Tia, vejam:


Minha Tia é a típica baiana que mostra que “a baiana tem” alegria, tem gingado, jeito dengoso e muito amor por ser o que é e por fazer o que faz.
É muito provável que Minha Tia tenha nascido ali em Salvador, e de seus pais tenha herdado todo conhecimento, cultura, tradição, originados de tribos africanas. A culinária, por exemplo, pode ter aprendido com sua mãe de quem herdou todo ofício e muitas características.
Minha Tia é uma mulher muito bem resolvida, de caráter, compaixão, se preocupa muito com seu próximo, por exemplo, quando tenta convencer Zé do Burro que ele deve cumprir sua promessa no terreiro, pois Iansã estará lá pra receber, ela até se oferece para ir com ele até lá.
Algo muito forte nesta personagem é a dedicação que ela tem ao Candomblé, inclusive é Ekedi, ou seja, como uma dama de honra do Orixá regente da casa.
Percebe-se também que Minha Tia é muito querida e respeitada pelas pessoas ali da região (com exceção das beatas, que preferem manter distancia dela).
Ali no inicio da escadaria da Igreja de Santa Barbara, Minha Tia, com seu rústico tabuleiro de iguarias típicas da terra: acarajé, abará, beiju, caruru, ela não fica alheia aos acontecimentos da cidade e comercializa para sobreviver e também para manter viva a tradição da população soteropolitana, com tudo isso é uma pessoa repleta de uma enorme felicidade e tem muito bom coração, uma mulher muito sincera que diz o que pensa sem medo e em tudo que faz não carrega maldade, ou segundas intenções, no meu modo de ver esta é uma frase que muito se relaciona com Minha Tia: “O Candomblé sobrevive até hoje porque não quer convencer as pessoas sobre uma verdade absoluta, ao contrário da maioria das religiões”(Pierre Verger)
Com sua veste rendada de uma brancura imaculada, seu turbante, seus colares, acessórios e enfeites vermelhos e brancos em saudação à Iansã, Minha Tia se mostra uma mulher forte, guardiã das crenças e costumes, cheia de energia, vontade de viver e de bem consigo mesma e muitas vezes é possível perceber sua alegria através das canções que vive cantarolando enquanto realiza seus afazeres.

Fonte imagem:
http://www.unicamp.br/~everaldo/bahia/baiana.jpg