Olá pessoal, aí está a análise da Fernanda para a personagem que ela irá representar na peça: a comerciante Galega:
Supõe-se que a Galega tenha vindo da província de Pontevedra na Galícia. No Brasil, descobre uma economia efervescente em Salvador na Bahia e logo abre uma venda em frente da igreja de Santa Bárbara no bairro da Liberdade.
Galega como outros de sua origem tem fama de trabalhadora e, ao mesmo tempo, uma pessoa bruta, determinada. No entanto, a sensibilidade pouco aflora ao colocar quase sempre o lucro a frente das coisas. A vendola é uma estratégia de vender tudo ou quase tudo que a população precisa e indo até um pouco além. No estabelecimento caracteriza-se por ser uma vendola, secos e molhados, armazém, vendinha, ou seja, um lugar que se encontra de tudo: desde bebidas, comidas até roupas, remédios, etc.
Ela sempre está informada de praticamente tudo o que acontece no bairro, a vida que circula dentro e fora de sua vendola. Capoeiristas, bêbados, vendedores de rua, poetas, trabalhadores de todo tipo, religiosos, malandragem, conflitos, amores, hipocrisia, trapaça, festas, crenças, etc. Adquire a todo o momento certo conhecimento que a faz um tanto observadora, curiosa e palpiteira. Contudo, ela percebe o mundo de forma utilitária e racional, não penetra o mundo das crenças, não gosta de padres e pouco considera as manifestações negras.
Num bairro que se chama Liberdade logo aparece algo que contradiz: a igreja com seu monolitismo (de caráter impenetrável, fechado). A galega se opõe, diz que não gosta de padres, porém logo concorda com a atitude restritiva do padre ao ver que a freguesia aumenta e possibilita publicidade do seu estabelecimento. É insensível aos dramas e sofrimentos que percorre a realidade que a cerca, quer defender seu negócio, é alheia a luta e sentimento de Zé, um pagador de promessas impedido de cumprir seu desejo, oprimido, num emaranhado em que a galega é parte, num símbolo de tirania de um sistema organizado contra o indivíduo desprotegido e só.
A galega á uma personagem superficial e estereotipada que faz parte do “baile de máscaras” citado por Sábato Magaldi. Ela também simboliza a hipocrisia da sociedade, quase sempre com interesses mascarados, como quando oferece o prato de comida a Zé, dizendo que queria ajudar quando, na verdade, estava interessado na freguesia que aumentava pela polêmica da situação.
Sua identidade, língua e comportamentos são ainda permeados pela cultura da Galícia, em que o idioma se mistura com português e espanhol, as vestimentas, como por exemplo, o pano na cabeça, mantón (lenço de oito pontas), saia longa, mandil (atado da cintura), camisa, sapo (adornos colocados no peito), dengue (peça de teia que cruzam sobre o peito), etc.